Certa
vez li algo na internet que falava sobre a “soma de todos os amores”. Era um
poema, uma passagem, não me recordo. Vinicius de Moraes já falava que o amor
verdadeiro é a soma de todos os amores, inclusive do amor ao seu semelhante.
Buzzfeed.com |
Pois
bem, isso está há dias na minha cabeça e não posso deixar de fazer uma analogia
a nossa vida esportiva, seja triathlon ou corrida. Quando escolhemos um desafio
– seja uma prova difícil, uma distância maior, um tempo mais baixo – empregamos
toda nossa disciplina e determinação para alcançar aquela meta. Às vezes o
tempo de preparação é longo, pode ser um ano, seis meses, talvez menos...mas
serão semanas e semanas de abdicação e concentração.
Nesse
ínterim da preparação muitas coisas acontecem: amores acabam, relacionamentos
são rompidos, empregos que mudam (ou extinguem), mudança de cidade, problemas
de família, saúde... enfim, há uma série de hipóteses que não são conjecturadas
na tese inicial, isto é, quando nos inscrevemos em determinada prova. Mas elas
acontecem e temos que lidar com isso, queiramos ou não.
E elas
vão se acumulando sem que percebamos. O chefe que não ajuda, as contas que
vieram mais altas, o filho que não obedece, a esposa que não compreende (ou
vice-versa) e as tão temidas lesões! Ah, essas são o pesadelo para qualquer
atleta, seja amador ou profissional. Trata-se, recupera-se e segue novamente.
Até a próxima.
Quando
percebemos, na reta final de uma preparação (ou no polimento) carregamos
conosco a soma de todas as dores: físicas, mentais, emocionais. Fazer aquela
prova é como deixar para trás todo o sofrimento, findar um ciclo, extravasar
aquela fase de provações. E cruzar o pórtico é a libertação extrema, ou o
resultado de toda aquela soma: que somos mais fortes do que imaginamos.
Arquivo pessoal |
Ao
cruzar o pórtico do meu IronMan, deixei para trás uma fase bem pesada da minha
vida mas mal sabia que outra maior estava por vir. Porém, o ato simbólico de “sofrer”
durante uma prova para qual me preparei por meses, de dar o meu melhor e
realizar um sonho, serviu de marco para encerrar um ciclo. Um ciclo de muitas
dores e, ao mesmo tempo, realizações. Porque toda dor traz consigo uma lição.
E
assim carregamos, em cada desafio a que nos propomos, essa soma de dores. Mas são
dores verdadeiras, como diria Moraes a respeito dos amores. São dores que
vivenciamos diariamente, que a vida nos impõe, que está viva em nós, que se
relaciona com outras pessoas. São dores que nosso coração no traz, que nossa mente cria e que nosso corpo sofre, mas que estão ali naquela avalanche de aprendizados e experiências que nos tornam humanos.
Espero que a cada ciclo saibamos reconhecer cada dor e junta-las para que, no final, a sua soma possa ser reduzida a nada, quando deixar para trás tudo que carregou consigo para chegar ali. Que ciclos comecem, findem, comecem novos outra vez. E que a cada um, saibamos contemplar o aprendizado e ter gratidão pelas vivências e oportunidades. A dor é um pouco amor e o amor também é um pouco dor, caro Vinicius. Porém que sejam verdadeiros, como você diz, pois então a somatória valerá a pena.
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