23 de out. de 2017

Corrida e espaços públicos cercados


Hoje cedo durante o treino de corrida pelas ruas da cidade onde resido, São José dos Pinhais (região metropolitana de Curitiba), levei um susto quando cheguei no Paço Municipal e me deparei com a "pracinha" ao lado, onde ficam os mastros das bandeiras e os bancos, CERCADA.  Sim, isso mesmo, colocaram GRADES no entorno do ESPAÇO PÚBLICO cujos bancos as pessoas utilizavam para descanso, encontro, bate-papo. 
Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Espaços públicos urbanos são locais de socialização, não somente entre pessoas mas também de relacionamento entre poder público e seus cidadãos. Constituem, pois, parte das redes de mobilidade urbana uma vez que são pontos de passagem e também de socialização e bem-estar.

Não obstante o fato dos bancos terem sido cercados, as grades deixaram um espaço apertado e sem visão para quem precisa virar a direita ( sentido prefeitura) ou a esquerda (sentido terminal) sendo aquele cruzamento movimentado e eixo de ligação de bairros, escolas, comércio com o terminal central. 
Dependendo do sentido, perde-se a visão de quem vem do lado oposto. Sem contar as árvores, lixeiras e calçadas quebradas.

Arquivo pessoal


Arquivo pessoal
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Aquele ponto faz parte do meu percurso de corrida há mais de dez anos e já vi muitas mudanças porém nunca me deparei, desde a construção do paço municipal, com moradores de rua ou andarilhos naqueles bancos (e eu passo ali cedo!!!). Já vi muitas vezes, encontros, despedidas, esperas por caronas, e, aos fins de semana, muito comum idosos e pais com crianças (carrinhos, triciclos).  Ainda, que houvessem moradores de rua naquele espaço, cercá-lo seria a pior maneira da administração pública expor o seu problema em relação aos marginalizados (na acepção da palavra).

O Prof. Dr. Paulo Saldiva, em sua coluna na Radio USP, bem expôs: 
"Muros que, segundo ele, impedem nossa visão e nos obrigam a ver cimento onde deveria haver espaço, e divisões onde deveria haver pessoas. 'Os muros não só interferem com a estética e, consequentemente, com o nosso bem-estar e a nossa percepção, mas impedem que a gente usufrua o bem-estar de encontrar com as pessoas'.”



Corroborando com o tema, um artigo do The City Fix mostrou que a população se sente insegura em locais com muros e grades. 
"Public spaces are central to the dynamics of city life: they are meeting spaces, and the perceptions that people have of these areas are directly related to how they use them."

Ainda, Jane Jacobs, baseada no seu conceito "Eyes on the street" estabelece que as pessoas se sentem seguras quando conseguem manter o contato visual entre os prédios e as ruas, isto é, sem paredes ou empecilhos. E, sem dúvidas, aquele espaço gerava uma aproximação maior entre poder público e população.

Entrei em contato com a Prefeitura Municipal de São José dos Pinhais, via Facebook, questionando essa situação e prontamente me responderam:

Olá, Vivian Dombrowski. Agradecemos o seu contato. O Paço Municipal foi trocado de lugar e retornou ao seu local inicial, próximo ao memorial casarão, que é mais adequado para a realização dos eventos oficiais, bem como proporciona maior segurança aos munícipes e igualmente conta com bancos, em um ambiente arborizado, que pode ser utilizado por todos.


De qualquer forma não justifica terem tirado aquele espaço público compartilhado, estratégicamente localizado, que pode ser utilizado a qualquer dia e qualquer hora. De fato, há um espaço DENTRO da prefeitura mas só acessível no horário comercial, naturalmente. Ademais, a impressão que passa com tantas grades é, realmente, a vontade do distanciamento com a população.
As cidades caminham para integração, mobilidade, aproximação do pedestre e das pessoas. Desde sempre estes foram ignorados nas políticas públicas urbanas, embora constituam maior número que veículos automotores. Sabe-se que atualmente 63% da população usa a caminhada no seu deslocamento urbano e espaços públicos se transformam em pontos, em nós de socialização e bem-estar nas redes de caminhabilidade. 

Vivian Dombrowski
Pesquisadora e consultora em Direito urbano e cidades
Mestre em Direito, Estado e Sociedade - Estado, Meio Ambiente e Ecologia Política (UFSC)
Especialista em Direito Socioambiental e Bacharel em Direito (PUC-PR)







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