8 de abr. de 2020

Em tempos de COVID-19, correr na rua ou não?

Acredito que entre os corredores e ciclistas amadores, assim como os caminhantes, esta seja a questão que mais tem sido debatida nas últimas semanas. Com uma comunidade bem dividida e considerando opiniões médicas, recomendações da OMS, modelos adotados em outros países e, principalmente, a própria consciência, não há como definir uma postura efetivamente correta e obrigatória. 

A recomendação geral é se exercitar em casa. Mas há orientações para que quem se exercitar fora mantenha a “distância social” de 1,5m a 2m. Entretanto algumas pesquisas vem surgindo e colocando em xeque a eficácia dessa distância entre praticantes de atividade física e questionando se a atividade "ao ar livre" é de fato segura ou não.

Um estudo é o da KU Leuven (Bélgica) e da TU Eindhoven (Holanda), que diz que  a distância de dois metros , recomendada como distanciamento social, apenas seria eficaz se você estiver  em um ambiente fechado ou com zero vento. Uma pessoa que corre ou caminha ao ar livre, ela respira pela boca e nariz, tem coriza, salivação, e todas essas partículas ficam suspensas no ar, ou seja, quem vem após você vai entrar em contato com suas partículas assim como você teria contato com as de quem passou antes.


Essa pesquisa ainda determinou que pelo fato da salivação e a coriza serem comuns entre ciclistas, corredores e caminhantes, realizar seu treino lado a lado, na diagonal ou ainda um atrás do outro, haveria uma possibilidade de contaminação muito grande. Inclusive, as partículas suspensas poderiam ficar nas roupas facilitando ainda mais a contaminação.



Uma possibilidade mais segura, apontada nesse estudo, seria seria caminhantes e corredores seguirem na mesma direção a uma distância de 5 metros, ciclistas recreacionais 10 metros e ciclistas de rendimento 20 metros. 

De qualquer forma, o que vale mais é o bom senso. Se no seu percurso há muitas pessoas, sejam outros atletas ou pedestres se deslocando (há pessoas trabalhando), reconsidere transitar por ele. Evite parques e praças. O simples fato de desviar alguém já coloca você e a outra pessoa e risco. E quando retornar pra casa não se esqueça de tirar os calçados antes de entrar e já trocar de roupa. Ah, e lavar bem as mãos. 

E se puder, fique em casa.



Link sobre a pesquisa: https://medium.com/@jurgenthoelen/belgian-dutch-study-why-in-times-of-covid-19-you-can-not-walk-run-bike-close-to-each-other-a5df19c77d08

21 de mar. de 2019

Recomeços

Imagem: Nilton Junior / Minoru

Recomeçar: começar de novo; retomar após interrupção.

Pra mim recomeços são sempre mais difíceis que os começos. Porque quando você começa algo novo, há toda uma expectativa pela novidade, pelo incerto, por experimentar algo diferente. Já quando recomeçamos já sabemos o que nos aguarda, todo o processo para atingir o que se deseja novamente, as dores e alegrias, cada tijolinho que será colocado na reconstrução. 

E aí tem que ter muita força de vontade ou um sentimento de se amar tanto aquilo que se quer que  não se importará quantas vezes for preciso recomeçar. Ou a cada recomeço, renovar o olhar e reiniciar com uma nova visão.

Assim foi comigo, uma paixão que ficou adormecida por um período necessário (não necessariamente desejado) que envolveu um misto de sentimentos, planejamentos, insistências e frustrações. Um desejo de ver a corrida, natação, ciclismo com os mesmos olhos láaaaaa do início mas eu não tinha mais aquela visão, eu não era mais aquela moça de 19...20 anos que se descobriu forte através do esporte, que abraçou um estilo de vida e se dedicou por anos a ele, que fez amigos, aprendeu e compartilhou experiências, que mergulhou num mundo maravilhoso. Ela estava tão imersa que mal conseguia subir a tona para respirar e ver tudo sem esse filtro já cansado, viciado, comprometido. 

Periodo que cumulou com outros desafios na minha vida pessoal e profissional e como acredito que nada é por acaso na vida, entendi que era hora de parar, respirar e deixar fluir. Sem dor, sem cobrança, sem ressentimento, sem prender. Apenas deixar tudo se assentar. Porque tem horas que "dar um tempo" não é fraqueza mas sim uma das maiores mostras de fortaleza.

Acervo pessoal
Decidi voltar em uma prova que tivesse um significado para mim e nada melhor do que correr em casa, na prova do padroeiro da minha cidade, que é meu santo de devoção, a Meia Maratona de São José dos Pinhais. Ainda, meu retorno seria na mesma data, porem um ano depois, da difícil cirurgia da minha mãe e que foi um desafio imenso para nós. Na mais justo do que correr em um agradecimento tão grande. 

Não tive o tempo correto de preparação, ainda mais para quem não treinava com assiduidade, teve dor e problema nessas poucas semanas, mas teve vontade e muita disciplina e determinação. A ideia era chegar no dia 17 de março e cheguei com a alegria como se tivesse vencido a prova. E venci a minha prova! Depois de um ano e meio de aceitação, paciência, muito aprendizado, ressignificação, voltei! Uma nova versão que traz o que de melhor esses muitos anos ensinaram e que está pronta para absorver o que melhor ele ainda pode trazer. 


A todos que estiveram ao meu lado nesses meses "sabáticos" e complicados, minha gratidão e abraço mais que afetuoso.  Aos que comemoraram comigo o retorno, abraço de urso! Só posso dizer que sou abençoada por ter próximo a mim pessoas tão especiais!

Então... bons treinos e agora sim, os encontramos por aí!


27 de fev. de 2019

Vivendo sem açúcar

Olá pessoal,


Sempre leio nas redes sociais as pessoas comentando sobre "abandonar o açúcar" e, consequentemente a dificuldade em ficar sem comer doce, então resolvi dividir a minha experiência com vocês. 

Quando comecei
Em 2015 decidi cortar o açúcar por conta de uma promessa e fiquei 105 dias sem ingerir nada absolutamente nada de açúcar (nenhum tipo) ou mel. De doce, apenas frutas in natura. Conclui meu desafio mas continuei, apenas não tão radical, em função de um problema de saúde em casa que me assustou. Nessa fase continuei cortando açúcar mas usava mel e mascavo orgânico nas receitas (e continuo até hoje pois não uso adoçantes artificiais).




Naquele ano também comprei esse livro: "Zéro Sucre", que conta a trajetória de uma jornalista, a Danièle Gerkens,  que passou um ano sem ingerir açúcar. 
Ela conta mês a mês como foi, desde o preparo de receitas, adaptações e até as reações orgânicas dela. Foi um bom empurrão e uma ótima experiência compartilhada. 
Sem dúvidas ensinou e deu um bom suporte na decisão em cortar o açúcar.

Sem lactose, gluten e açúcar
Eu já tinha a intolerância a lactose, diagnosticada em 2013, e então descobri a intolerância ao glúten, o que foi restringindo mais a dieta e aumentando mais minha criatividade e poder de diversificação (hahahaha). Por conta de problemas de saúde, minha dieta passou a ser antinflamatória, o que me fez perceber e comprovar que a alimentação é nosso remédio e nosso veneno. 

Bom, com tudo isso aprendi mais sobre um mundo novo, de uma alimentação bem mais correta (pra mim!) e saudável e que não nos priva de comidas boas ou nos deixa passar vontade. Há uma gama de livros e sites com receitas muito bacanas e nutricionalmente corretas. 

Quanto ao açúcar, meu organismo não sente mais falta. Mesmo! Sei o quanto me faz mal e o preço que vou pagar se ingerir qualquer coisa com açúcar refinado e pondero se realmente valerá a pena. Não é privação, nem de longe.

TPM
Sempre sofri muito com ela, tanto por irritação quanto por vontade de doces. Conversando com a ginecologista, encontramos uma maneira de equilibrar as coisas, com tratamento necessário, e hoje sigo sem bater em ninguém hahahaha . Brincadeiras a parte, sintomas são sinais que nosso corpo e mente não estão legais! Se você está com algo que não é "normal" ou te incomoda, procure ajuda especializada. Qualidade de vida e saúde são nosso bem maior!

Alternativas
Tudo acontece conforme sua boa-vontade, disciplina e disposição em fazer dar certo. Há "n" maneiras de controlar a "vontade de doces", se assim você quiser. Atividade física, acupuntura, yoga, meditação, homepatia, são opções que podem ajudar o controle da vontade por doces. 

Escapadas
Naturalmente que nesses quase quatro anos me permiti algumas escapadas, geralmente em viagens, mas sem exagero, até porque em muitos lugares a oferta de produtos mais naturais é farta. Mas naturalmente que um doce ou outro acabamos nos permitindo, não é errado. Mas não pode ser hábito.


O que eu posso falar

O meu organismo se adaptou muito bem sem doces refinados e açúcares. Mas também tirei o foco disso. Não me dou "recompensas" por treinos, provas ou ocasiões (ah, hoje fiz longão então vou comemorar comendo uma fatia de bolo floresta negra, p.ex), pelo contrário,  no meu mindset acontece assim: "bom, eu fiz um longão show hoje, vou aproveitar todos os benefícios dele e compensar o desgaste com alimentos saudáveis"). 

Pra quem corre, nada e/ou pedala, treinos e provas não podem ser motivos de recomensa senão a coisa vai por água abaixo mesmo! O esporte é uma opção que VOCÊ fez! VOCÊ escolheu correr uma maratona! VOCÊ escolheu fazer um Ironman! São escolhas que não podem ser o foco total da sua vida. Assim como a decisão de diminuir ou cortar os doces... tire o foco. VOCÊ fez uma escolha, seja responsável, e siga com seu propósito. Não faça da comida seu foco central da vida.

Reiterando: no meu caso parte da minha decisão foi em função de doença autoimune e histórico familiar que me fizeram adotar outra alimentação ou passaria a vida sofrendo e dependente de medicação. Se você não precisa disso, não deixe chegar a uma situação em que a dieta não é apenas para "emagrecer" mas sim para "viver bem".

E sem lactose, sem açúcar e sem glúten não são modinhas para grande parte dos consumidores e pacientes, mas sim necessidade. Não generalize! 

Atenção

Ao sinal de qualquer "desajuste" no seu organismo e antes de qualquer mudança na sua alimentação, consulte um profissional de saúde. Cada organismo é único e tem necessidades nutricionais específicas, bem como patologias que devem ser observadas antes de qualquer mudança. Consulte seu médico e uma nutricionista, ok?



Quem está no foco de cortar o açúcar, mantenha-se firme!
E CLARO... Se alguém tiver qualquer dúvida, quiser dicas ou receitas, e ainda quiser dividir a experiência, deixe nos comentários ou me escreva no Contato. Será um prazer compartilhar mais com vocês!

Sucesso e bons treinos a todos!

18 de fev. de 2019

Filtro solar para esportistas

Olá pessoal,

Sempre dividi minhas dicas aqui e também no Instagram com vocês, afinal o que é útil e bom deve ser compartilhado, não é? 

Há muito tempo dou preferência aos produtos cosméticos sem parabenos, silicones, alumínio e, principalmente, não testados em animais. E essa minha atenção não é meramente por acaso, mas sim por questões de saúde eu não posso usar nada com parabenos, sulfatos ou alumínios. Até algum tempo atrás todos os produtos que eu usava - filtro solar, shampoo, condicionador, creme hidratante, máscaras, desodorantes - eram importados pois aqui era bem difícil encontrar e, mais ainda, com valores justos. 

Há uns dias, vasculhando a internet atrás de algum filtro solar nessa linha. O meu estava acabando e nós esportistas não podemos ficar sem o filtro solar, não é? Ainda mais pra pedalar e correr... O filtro tem que ser resistente, durável e de ótima qualidade. Confesso que não saio nem do meu quarto sem...rs

Fazendo minhas buscas, encontrei a Biozenthi, uma marca brasileira especializada em cosméticos e dermocosméticos veganos, não testados em animais, sem parabenos, petrolatos e sulfatos e livre de gluten (perfeito para celíacos). 

A fábrica fica em Criciúma/SC mas eles entregam em todo o Brasil e também possuem farmácias que vendem seus produtos. No meu caso, comprei através da Miligrama, aqui em Curitiba (frete grátis e entrega super rápida). 



O filtro que usei é o Filtro Solar Facial com base hidratante FPS 35. 


O meu é sem base mas eles também com base, em três tons, para quem quer adiantar o serviço. 

O filtro não é oleoso, não tem perfume (eba!!!) e não deixa o rosto melado ( ninguém curte, né?) e rende bem. Os fabricantes recomendam reaplicar após nadar ou transpiração excessiva. Para mim foi suficiente uma passada para um treino inteiro, mas isso é bem variável.


Eu comprei e usei, por conta e risco, e gostei muito, tanto que estou compartilhando aqui com vocês. 

Para quem é de Curitiba, os produtos da Biozenthi podem ser encontrados nas Farmácias Miligrama, Campelle e Farmadoctor. Para outras cidades, é só consultar o site deles ou entrar em contato que eles são super prontos em responder!

Ah, sim...havia falado em valor justo, né? Comprei online e paguei R$ 58,81 com Sedex grátis (Curitiba e região metropolitana). 

Bons treinos! 
E até a próxima!











27 de jan. de 2019

Meias. Afinal, qual é a importância delas?

Olá leitoras e leitores!

Inaugurando as postagens de 2019, resolvi falar sobre uma peça do vestuário do corredor que eu achava que já havia escrito por aqui... Fui procurar hoje um post sobre isso e vi que não tinha nada específico. Mas afinal...isso o que? MEIAS!!! Muitos falam sobre mas resolvi deixar minhas experiências registradas aqui, afinal gosto é como piiiiiii cada um tem um, não é?

Bom, as meias podem te levar do céu ao inferno durante um treino ou uma prova. Atrito, bolhas, calos, unha machucada são alguns dos maus momentos que elas podem te propiciar durante uma corrida. 

Muitas vezes você pode ter terminado um treino com bolhas inexplicadas ("nossa, mas eu corri a mesma distância!" OU "Mas usei o mesmo tênis!" - mas e as meias? Lembrou delas?), uma unha que constantemente está roxa/preta e você recorrendo à podólogas, calosidade exagerada e o atrito chato e incômodo. Pois é! 

Para mim, as melhores meias são aquelas:

  •  com mais poliéster do que algodão - ou só poliéster e elastano, por exemplo, 
  • cano médio ou curto (mas não a meia "invisível" porque dá atrito no meu tendão e calcanhar, 
  • ponteira fina e de preferência sem muitas costuras,
  • calcanhar reforçado (pra não furar rápido demais hahaha).
Onde a coisa pega! (Arquivo pessoal)
Vou compartilhar aqui alguns modelos que uso e gosto. Não é jabá de nenhuma marca!! Divido para ajudar quem está na dúvida, ok?

1)  Track & Field Run 
Ganhei num kit de premiação e depois em um kit de prova e já as usei muito. Muito mesmo. Acomodam bem nos pés, não são grossas e não dão atrito. A ponteira tem um leve reforço, assim como o calcanhar. 


Arquivo pessoal

2) Asics Nimbus
Essa ganhei num sorteio e adorei. Esteve comigo em dois Ironman e é infindável...rs Embora seja um pouco mais grossa que as demais, não machuca o pé e não me deu atrito. Ainda, ela tem um reforno no próximo ao tornozelo (aquela parte vermelha próxima às letras) que impede que a amarração mais forte venha a machucar. 


arquivo pessoal
3) Reebok
Comprei-as durante uma viagem (sim, compramos meias também! hahaha) e são muito boas. Na minha opinião, o modelo que mais entende a anatomia dos meus pés. 

Arquivo pessoal
 4) Kalenji
Comprei essas na Decathlon (viu, eu não vivo de ganhar meias...rsrs)  mais pelo valor (na época acho que não foi mais que R$9,90) e gostei muito até para usar no dia a dia (inverno) com botas e sapatos fechados. Tem em branco e preto. cano médio, ponteira e calcanhar com reforço médio e o peito do pé com mais elastano (o que não a faz a minha preferida para correr).
Arquivo pessoal

5) New Balance
Esse modelo eu comprei naqueles pacotes de 3 pares pelo preço de 2. Faz muito tempo. Mas não gosto delas e por isso deixei-as por último. Elas escorregam e o tênis as vai engolindo. Além disso lacearam muito rápido e o material delas faz com que deslizem nos tênis. Minha opinião. Não é lei (ui, ainda bem! hahahaha).

Arquivo pessoal

Quanto a valores...bom esses ficarei devendo para vocês. 
Esses modelos que postei para vocês são bem antigos - e usados - e não sei o valor atual. Mas joguem no Google que você acha! 
Lembrem-se: investir numa boa meia é um bom negócio, tanto pelo conforto quanto pela durabilidade. Aquela meia da Asics  (#2) tem, sem brincadeira, 7 anos, e está boa ainda. Lavando e secando conforme as especificações do produto, eles durarão muito mais.

E não há dicá perfeita ou fórmula mágica... tem que tentar, testar e arriscar. 

Se alguém tiver uma dica legal, deixe abaixo nos comentários pra gente!!!

Bons treinos e um ótimo 2019 a todos vocês!!!




14 de out. de 2018

Como eu descobri a fibromialgia

Olá pessoal, como passaram?

Continuando nosso bate-papo... 


Diagnóstico é uma coisa meio estranha, não é? Às vezes você não quer saber, entra em pãnico com algumas possibilidades, enquanto em outras traz um alívio imediato por colaborar na solução dos seus problemas. 

Com a fibromialgia foi alívio tê-lo. Não que eu tenha ficado tranquila por saber que tenho essa síndrome mas por entender o que se passava comigo, encontrar as respostas para tantos problemas e comportamentos inesperados e, principalmente, começar um protocolo para sair da crise e controlar o problema. Fibromialgia é assim: não tem cura mas tem controle. É aceitar o problema, trabalhar nas causas (ou gatilhos) e seguir a vida.

Lá trás
Há muito tempo eu vinha sentindo muitas dores musculares - um dia perna, outro braço, outro quadril - e a explicação era sempre a mesma: muito stress e muito treino.  O stress ainda era corroborado com algumas crises de ansiedade e pânico, mas que sempre eram "explicadas" pelo meu jeito de querer tudo certinho, de não aceitar fazer menos do que o máximo, de querer abraçar o mundo. Eu acabei me acostumando com esse diagnóstico e convivi muito mas muito tempo com isso. 

2018
Esse ano, com um problema de saúde muito grave na família, minha vida virou de pernas para o ar. De um dia para o outro tudo, absolutamente, tudo mudou e não senti o quanto aquilo também havia me mudado. Depois de uns meses, quando tudo voltou a entrar nos eixos e eu retomei minha vida, veio a contar para meu corpo pagar, por meses de descuido, desatenção e priorizando outra situação e esquecendo de mim mesma. 
Os sintomas? Muita mas muita dor pelo corpo, sem precisar exatamente onde era (doía para passar um creme no corpo, pentear os cabelos, piscar, vestir uma calça, escrever e digitar); cervicalgia; inflamação no psoas; queda de cabelos; aumento de peso; dificuldade em dormir; falta de concentração; uma fadiga enorme; depressão e ansiedade. E foram esses dois últimos que realmente me assustaram quando perdi a vontade de praticar esportes. A corrida e a natação sempre foram meus escapes para momentos difíceis, tanto que minhas melhores provas, meus melhores tempos foram sempre depois de algum acontecimento difícil. Dessa vez não... dessa vez tudo me cansava, me enjoava, criei centenas de bodes com a corrida, o cheiro do cloro me irritava. E isso não era normal e reconheci que algo definitivamente estava errado e que não era apenas "estresse", "burn out", "cansaço". Era biológico também. 

Diagnóstico
Procurei meu médico, fizemos uma bateria de exames e fui para um reumatologista. Como já tive doença autoimune, foi um "long shot" para descobrir o que estava acontecendo e bingo! Recebi o diagnóstico da fibromialgia. Não vou negar que a sensação de alívio foi bem maior do que a tensão do que estaria por vir. 
Quando você sente dores que não pode explicar, mil coisas vem a mente, inclusive o pior. E a mente é uma máquina que trabalha bem a favor e contra você - depende do que você escolhe.

Atividade física e treinos

A primeira "bronca" do médico foi por eu ter parado de treinar. Além de eu não ter vontade, tudo doía para nadar, pedalar e correr. Não evoluía, nadava nem 100m e queria parar...tudo isso me frustrava ainda mais. 
Quanto a dor, eu deveria insistir pois a tendência, com o tratamento, seria diminuir. E a vontade, eu teria que lidar com a minha mente.
O primeiro mês foi assim...TERRÍVEL. Confesso que foi um trabalho sobrehumano fazer minha cabeça entender que aquela dor não era lesão e que ia passar depois de 15min, 20min e, me convencer a chegar nesse tempo. Mas eu sabia que se insistisse, seria melhor pra mim. E assim foi.


Alimentação, suplementação e medicamentos
Se eu já tinha uma vida regrada, agora é 10 vezes mais. Mas disciplina não é o problema e se o alívio e o controle podem estar nas minhas mãos, não posso reclamar de nada.
Não vou entrar em detalhes sobre o que eu uso pois na fibromialgia o tratamento é muito individualizado e tem que ser prescrito por especialista, assim como uma dieta antiinflamatória deve ser prescrita por uma nutricionista. 
Mas em uma próxima conversa contarei pra vocês o que eu levo na minha "marmitinha fit"  e um pouco mais sobre minha alimentação pois o resultado disso tudo se refletiu num todo, não só no controle da doença mas na disposição, no rendimento, no emagrecimento e, principalmente, na consciência do que estou colocando pra dentro de mim, me cuidando e respeitando.

Daqui pra frente
Como todo mundo, sempre há dias bons e ruins. Mas saber lidar com todos eles é a chave do sucesso.
Agora é arrumar uma prova de triathlon, corrida, travessia para focar e voltar aos bons tempos. É seguir com a rotina, reconhecendo os limites e capacidades, me autoconhecendo cada dia mais, valorizando o que me faz bem e aprendendo a lidar com o que e quem não faz. 

Até a próxima! Se cuidem e fiquem bem!!

10 de out. de 2018

O que é a fibromialgia?

Conforme eu prometi a vocês lá no Instagram, esse é o primeiro de uma série de posts sobre a fibromialgia, uma “colega” com quem estou aprendendo a conviver. Nessa série vamos conversar sobre o que é essa síndrome, como eu a descobri, os sintomas, ups and downs, como fica a vida pessoal, esportiva e profissional, e a retomada dos planos depois do diagnóstico e a nova jornada.

Mas, para iniciar essa nossa conversa, vamos saber o que é a fibromialgia?

Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a síndrome da fibromialgia (FM) é uma síndrome clínica que se manifesta com dor no corpo todo, principalmente na musculatura. Além da dor, há a fadiga (cansaço que nunca passa), sono não reparador (a pessoa acorda cansada) e outros sintomas como alterações de memória e concentração até para pequenas ações, ansiedade, depressão e alterações intestinais. Uma característica da pessoa com FM é a grande sensibilidade ao toque e à compressão da musculatura, ou seja, uma sensação de dor “na carne”, onde apenas encostar para passar um creme ou pentear os cabelos é doloroso.

Alguns dados
Não estamos só! A fibromialgia é um problema bastante comum, visto em pelo menos em 5% dos pacientes que vão a um consultório médico geral e em 10 a 15% dos pacientes que vão a um consultório de Reumatologia.
De cada 10 pacientes com fibromialgia, sete a nove são mulheres. Não se sabe a razão porque isto acontece.  A idade de aparecimento da fibromialgia é geralmente entre os 30 e 60 anos. Porém, existem casos em pessoas mais velhas e também em crianças e adolescentes.
Lady Gaga e Morgan Freeman são personalidades que convivem com a síndrome e a tratam publicamente.

Sobre o diagnostico

O diagnóstico da fibromialgia é clínico, isto é, não se necessitam de exames para comprovar que ela está presente. Se o médico fizer uma boa entrevista clínica, pode fazer o diagnóstico de fibromialgia na primeira consulta e descartar outros problemas.
Os critérios de diagnóstico da fibromialgia são:
a) dor por mais de três meses em todo o corpo.
b) presença de pontos dolorosos na musculatura (11 pontos, de 18 que estão pré-estabelecidos).
Por serem sintomas comuns a outras patologias, é necessário que o diagnóstico seja feito por um médico especialista, ok?



Sintomas
O sintoma mais importante da fibromialgia é a dor difusa pelo corpo. Habitualmente, o paciente tem dificuldade de definir quando começou a dor, se ela começou de maneira localizada que depois se generalizou ou que já começou no corpo todo. O paciente sente mais dor no final do dia, mas pode haver também pela manhã.

A alteração do sono na fibromialgia é frequente, afetando quase 95% dos pacientes. O sono tende a ser superficial e/ou interrompido e a pessoa acorda cansada, mesmo que tenha dormido por um longo tempo – “acordo mais cansada do que eu deitei” e “parece que um caminhão passou sobre mim” são frases frequentemente usadas. Esta má qualidade do sono aumenta a fadiga, a contração muscular e a dor.

A depressão está presente em 50% dos pacientes com fibromialgia. Por muito tempo pensou-se que a fibromialgia era uma “depressão mascarada”. Hoje, sabemos que a dor da fibromialgia é real, e não se deve pensar que o paciente está “somatizando”, isto é, manifestando um problema psicológico através da dor. Por outro lado, não se pode deixar a depressão de lado ao avaliar um paciente com fibromialgia.

Pacientes com FM queixam-se muito de alterações de memória e de atenção, e isso se deve mais ao fato da dor ser crônica do que a alguma lesão cerebral grave. Para o corpo, a dor é sempre um sintoma importante e o cérebro dedica energia lidando com esta dor e outras tarefas, como memória e atenção, ficam prejudicadas.

O que causa a Fibromialgia?

Não existe ainda uma causa única conhecida para a fibromialgia, mas já temos algumas pistas porque as pessoas têm esta síndrome. Os estudos mais recentes mostram que os pacientes com fibromialgia apresentam uma sensibilidade maior à dor do que pessoas sem fibromialgia. Na verdade, seria como se o cérebro das pessoas com fibromialgia estivesse com um “termostato” ou um “botão de volume” desregulado, que ativasse todo o sistema nervoso para fazer a pessoa sentir mais dor. Desta maneira, nervos, medula e cérebro fazem que qualquer estímulo doloroso seja aumentado de intensidade.

A fibromialgia pode aparecer depois de eventos graves na vida de uma pessoa, como um trauma físico, psicológico ou mesmo uma infecção grave. O mais comum é que o quadro comece com uma dor localizada crônica, que progride para envolver todo o corpo. O motivo pelo qual algumas pessoas desenvolvem fibromialgia e outras não ainda é desconhecido.

Dor de verdade? O que não mais se discute é se a dor do paciente é real ou não. Hoje, com técnicas de pesquisa que permitem ver o cérebro em funcionamento em tempo real, descobriu-se que pacientes com FM realmente estão sentindo a dor que referem. Mas é uma dor diferente, onde não há lesão na periferia do corpo, e mesmo assim a pessoa sente dor. Toda dor é um alarme de incêndio no corpo – ela indica onde devemos ir para apagar o incêndio. Na fibromialgia é diferente – não há fogo nenhum, esse alarme dispara sem necessidade e precisa ser novamente “regulado”.
Esse melhor entendimento da FM indica que muitos sintomas como a alteração do sono e do humor, que eram considerados causadores da dor, na verdade são decorrentes da dor crônica e da ativação de um sistema de stress crônico.


Vida que segue
A síndrome da fibromialgia quando sob controle (medicação, dieta, suplementação, atividade física, terapia) permite uma vida normal ao paciente. O importante é seguir o tratamento prescrito e a prática de esportes. No meu caso, retomar os treinos foi condição obrigatória imposta pelo médico. Não foi fácil, acreditem. E essa retomada vocês acompanharão nos próximo posts e também pelo Instagram.

Se cuidem e fiquem bem! 
Até lá!


30 de out. de 2017

Pedestres, corredores e a resolução do Contran

Foto: USP Images

Na última sexta-feira, 27, foi publicada a resolução 706/2017 do Contran, que regulamenta o Código de Trânsito Brasileiro (1997) a respeito de multas para pedestres e ciclistas. Tal previsão de punição já constava nos artigos 254 e 255 do CTB, porém necessitava de regulamentação para entrar em vigor, ainda que esta tenha surgido vinte anos mais tarde, ainda que necessite de complementações por parte dos municípios, ainda que tenha 180 dias para entrar em vigor. 

Segundo a resolução, pedestres poderão ser multados em R$44,19 e ciclistas em R$130,16  ( + apreensão da bike em algumas situações) caso infrinjam as normas de circulação. Neste caso, o agente de trânsito poderá lavrar o auto de infração e aplicar a multa, que pode ser paga via boleto bancário ou cartão de crédito. 

Para não me alongar muito no post, irei me ater apenas a questão do pedestre (e, por consequência, do corredor) diante dos desafios em se trafegar pelas cidades. 

De acordo com o CTB:

Art. 254. É proibido ao pedestre:

        I - permanecer ou andar nas pistas de rolamento, exceto para cruzá-las onde for permitido;
        II - cruzar pistas de rolamento nos viadutos, pontes, ou túneis, salvo onde exista permissão;
        III - atravessar a via dentro das áreas de cruzamento, salvo quando houver sinalização para esse fim;
        IV - utilizar-se da via em agrupamentos capazes de perturbar o trânsito, ou para a prática de qualquer folguedo, esporte, desfiles e similares, salvo em casos especiais e com a devida licença da autoridade competente;
        V - andar fora da faixa própria, passarela, passagem aérea ou subterrânea;
        VI - desobedecer à sinalização de trânsito específica;
        Infração - leve;
        Penalidade - multa, em 50% (cinqüenta por cento) do valor da infração de natureza leve.

Entretanto, há situações nas nossas cidades que não "se encaixam" nas normas do CTB e, menos ainda, na resolução do Contran. Segundo Juciano Rodrigues, do Observatório das Metrópoles, estima-se que 1/4 dos domicílios nas principais regiões metropolitanas não tenham seu entorno constituído por calçadas. Belém, por exemplo, tem 43,7% de domicílios com calçadas, enquanto Belo Horizonte possui 82,7% e São Paulo 90,7% .
Ainda, há que se considerar que dentro dessa percentagem há aquelas calçadas onde é inviável trafegar, seja pelas condições das mesmas, obstáculos, degraus, rampas, carros estacionados.

Segundo a resolução, normas específicas deverão ser estabelecidas pelo município. Porém, estamos diante de um ordenamento que não prevê o pedestre, apenas o automóvel. Não há políticas públicas que abracem o pedestre, isto é, em nenhum momento alguma lei se preocupou em priorizar o espaço para o deslocamento a pé. E o resultado dessa desídia é a atual situação de nossas calçadas, além da insegurança para se trafegar a pé. 

A Constituição federal, arts. 182 e 183, trouxe a política urbana para a pauta, que posteriormente foi regulamentada pela Lei 10.257/2002, o Estatuto da Cidade. Contudo, nesse tempo caminhamos vagarosamente na implementação do mesmo. Washington Fajardo, da WAU Agência Urbana, definiu bem essa situação: temos um "Estatuto da Cidade que, após 15 anos, ainda não disse a que veio". Os prefeitos fazem planos diretores apenas "pro forma", sendo que muitos sequer utilizam os instrumentos nele previstos. 


E então fica a pergunta: como punir uma ação que não tem a alternativa de ser executada dentro lei? Como punir um pedestre por estar caminhando na rua (ainda que no canto, próximo ao meio-fio) se não há calçadas? Como punir um pedestre por atravessar fora da faixa se não há faixa, cruzamento ou passarela em um raio de 5km? Como punir pedestres que não usam passagens subterrâneas ou passarelas em razão da inseguração (assaltos e estupros)? Há muito que se regulamentar antes da nova resolução entrar em vigor. E nenhum município conseguirá "fazer milagres" em 180 dias, o que possivelmente tornará a resolução do Contran "letra morta".

Foto: mobilize.org
Entende-se que há uma necessidade de estabelecer direitos e deveres para todos os envolvidos na dinâmica da mobilidade. Já existem normas estipuladas, como atravessar na faixa de pedestre e  respeitar a sinalização e muito se vê pedestres infringindo essas regras, seja por desatenção ou comodismo. Porém é fato que existe uma necessidade de especificar a nova resolução e, antes disso, adequar a cidade à sua implementação, começando pela atenção às calçadas e à malha de caminhabilidade, bem como colocando o pedestre, então alvo das normas do Contran, como objeto principal nas dinâmicas urbanas. 


23 de out. de 2017

Corrida e espaços públicos cercados


Hoje cedo durante o treino de corrida pelas ruas da cidade onde resido, São José dos Pinhais (região metropolitana de Curitiba), levei um susto quando cheguei no Paço Municipal e me deparei com a "pracinha" ao lado, onde ficam os mastros das bandeiras e os bancos, CERCADA.  Sim, isso mesmo, colocaram GRADES no entorno do ESPAÇO PÚBLICO cujos bancos as pessoas utilizavam para descanso, encontro, bate-papo. 
Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Espaços públicos urbanos são locais de socialização, não somente entre pessoas mas também de relacionamento entre poder público e seus cidadãos. Constituem, pois, parte das redes de mobilidade urbana uma vez que são pontos de passagem e também de socialização e bem-estar.

Não obstante o fato dos bancos terem sido cercados, as grades deixaram um espaço apertado e sem visão para quem precisa virar a direita ( sentido prefeitura) ou a esquerda (sentido terminal) sendo aquele cruzamento movimentado e eixo de ligação de bairros, escolas, comércio com o terminal central. 
Dependendo do sentido, perde-se a visão de quem vem do lado oposto. Sem contar as árvores, lixeiras e calçadas quebradas.

Arquivo pessoal


Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Aquele ponto faz parte do meu percurso de corrida há mais de dez anos e já vi muitas mudanças porém nunca me deparei, desde a construção do paço municipal, com moradores de rua ou andarilhos naqueles bancos (e eu passo ali cedo!!!). Já vi muitas vezes, encontros, despedidas, esperas por caronas, e, aos fins de semana, muito comum idosos e pais com crianças (carrinhos, triciclos).  Ainda, que houvessem moradores de rua naquele espaço, cercá-lo seria a pior maneira da administração pública expor o seu problema em relação aos marginalizados (na acepção da palavra).

O Prof. Dr. Paulo Saldiva, em sua coluna na Radio USP, bem expôs: 
"Muros que, segundo ele, impedem nossa visão e nos obrigam a ver cimento onde deveria haver espaço, e divisões onde deveria haver pessoas. 'Os muros não só interferem com a estética e, consequentemente, com o nosso bem-estar e a nossa percepção, mas impedem que a gente usufrua o bem-estar de encontrar com as pessoas'.”



Corroborando com o tema, um artigo do The City Fix mostrou que a população se sente insegura em locais com muros e grades. 
"Public spaces are central to the dynamics of city life: they are meeting spaces, and the perceptions that people have of these areas are directly related to how they use them."

Ainda, Jane Jacobs, baseada no seu conceito "Eyes on the street" estabelece que as pessoas se sentem seguras quando conseguem manter o contato visual entre os prédios e as ruas, isto é, sem paredes ou empecilhos. E, sem dúvidas, aquele espaço gerava uma aproximação maior entre poder público e população.

Entrei em contato com a Prefeitura Municipal de São José dos Pinhais, via Facebook, questionando essa situação e prontamente me responderam:

Olá, Vivian Dombrowski. Agradecemos o seu contato. O Paço Municipal foi trocado de lugar e retornou ao seu local inicial, próximo ao memorial casarão, que é mais adequado para a realização dos eventos oficiais, bem como proporciona maior segurança aos munícipes e igualmente conta com bancos, em um ambiente arborizado, que pode ser utilizado por todos.


De qualquer forma não justifica terem tirado aquele espaço público compartilhado, estratégicamente localizado, que pode ser utilizado a qualquer dia e qualquer hora. De fato, há um espaço DENTRO da prefeitura mas só acessível no horário comercial, naturalmente. Ademais, a impressão que passa com tantas grades é, realmente, a vontade do distanciamento com a população.
As cidades caminham para integração, mobilidade, aproximação do pedestre e das pessoas. Desde sempre estes foram ignorados nas políticas públicas urbanas, embora constituam maior número que veículos automotores. Sabe-se que atualmente 63% da população usa a caminhada no seu deslocamento urbano e espaços públicos se transformam em pontos, em nós de socialização e bem-estar nas redes de caminhabilidade. 

Vivian Dombrowski
Pesquisadora e consultora em Direito urbano e cidades
Mestre em Direito, Estado e Sociedade - Estado, Meio Ambiente e Ecologia Política (UFSC)
Especialista em Direito Socioambiental e Bacharel em Direito (PUC-PR)







16 de dez. de 2016

O pior do ser humano é o novo normal

Hoje peço licença para um desabafo. Nada relacionado com o triathlon ou suas modalidades mas sim com o nosso presente. Um momento denso, abafado e asfixiante que nos faz esgotar todas as forças para fazer a esperança não se afogar no mar de vaidade, orgulho e ganância que nos envolve local e universalmente. 

reprodução internet

É aquela situação de família, o entrave no ambiente de trabalho, o descontentamento com situações erradas, o cenário político, a esfera humanitária, enfim, uma somatória de fatores norteados pela vontade excessiva de ter ou receber mais do que os outros. Afinal, é isso o que move o ser humano cada vez mais nos dias de hoje? Por que tantos querem mais e mais ou, pior, tirar o que é dos outros? 

Na definição do dicionário: Ganância: 1. Ânsia por ganhos exorbitantes; avidez, cobiça, cupidez. Ânsia de ágio; agiotagem, usura. 2. Desejo exacerbado de ter ou de receber mais do que os outros.

Na coletiva de imprensa após o jogo do Atlético/PR x Flamengo, no último domingo, o técnico do Furacão, Paulo Autuori (quem admiro muito como profissional e pela maneira de pensar e trabalhar) propôs uma excelente reflexão sobre esse tema: 

“As lições estão aí e apareceram da forma mais trágica possível mas que nós temos que parar pra pensar que falar em tragédia em futebol...tá na hora da gente mudar, de nós mudarmos, nós que trabalhamos com futebol. É impossível que a gente passe por uma situação trágica como essa e não mudemos a nossa maneira de encarar o futebol. [...] O futebol pode dar grande exemplo a todos, principalmente ao nosso país que passa um momento muito complicado e é importante a gente refletir, infelizmente, na maneira mais trágica a gente pode entender o que se passou no país, o que está se passando e tratarmos as coisas com um pouco mais de seriedade em relação aquilo que deve ser o bem-estar dos cidadãos brasileiros.[ Sobre o acidente com a Chapecoense] Não foi um acidente mas uma sucessão de erros. Ali mostra exatamente o que eu to falando sobre o nosso Brasil, a ganância é grande por parte daqueles que teriam a responsabilidade de dar exemplo e só pensam nisso. [...] O momento é muito de reflexão ao menos para aqueles que tem alguma coisa em relação a um sentimento de bem-estar que tem que ser repartido com os concidadãos, com seus semelhantes.” (assista aqui a íntegra entrevista).

Ganância essa que está estampada em nosso país, quando o Congresso Nacional inescrupulosamente aproveitou-se do luto e da comoção nacional em face da tragédia com o vôo da Chapecoense para articular suas manobras. Estas que, na política brasileira, já estão maculadas e desacreditadas, tamanha corrupção que se instaurou no Brasil. É o querer mais, tirar mais, se apoderar sempre mais. MAIS MAIS MAIS MAIS!!! Cifras que ultrapassam o entendimento de qualquer cidadão médio, que cumpre sua jornada de trabalho mal remunerada e contribui com sua carga tributária bem pesada. Uma nação onde os três poderes disputam entre si o maior poderio, usando artilharia de guerra para derrubar o outro, enquanto teriam a obrigação de caminhar juntos, em mútuo auxílio, em prol dos seus milhões de cidadãos.  Um governo que poderia não estar quebrado – em todos os sentidos: econômico, comercial, humano e moral – não fosse a ânsia em locupletar-se indevidamente, por quem deveria dar exemplo. Não se trata aqui de partido político ou posição ideológica mas sim de falta de moral e caráter do ser humano. 

Ampliando o cenário, podemos perceber o quanto o mundo sofre com esse desejo destrutivo pelo poder e pela riqueza. Enquanto a história parecia ter sido marcada apenas pelas atrocidades de Hitler, tivemos depois o genocídio na antiga Iugoslávia e, enquanto muitos acreditavam que Sbrenika serviria de exemplo para que o ser humano não mais atentasse dessa maneira contra a vida de outros, temos os casos de genocídio no Sudão e, agora, os conflitos na Síria, exterminando Aleppo. Casos atrozes julgados pelo Tribunal Penal Internacional que colocam em xeque a existência de virtudes em seres humanos. Em um recente artigo no Jornal The Guardian, questiona-se o porquê da humanidade não ter aprendido nada com Srebrenika, da qual uma sobrevivente declara: 

"Ao contrário, o pior da humanidade está se tornando o novo normal. Quando olhamos por outro lado, definimos o mais perigoso dos precedentes, aquele que faz a minha experiência mais provável de ser repetida. Eu olhei para o cano da arma e sei que a humanidade não pode permitir isso. Assumir uma sobrevivente do genocídio – mais Alepo está em jogo."

O ser humano só aprende com a tragédia. Acredito nisso, muitos podem aprender com a tragédia alheia, porém com muitos outros o aprendizado virá quando atingir a si próprio, além daqueles que vivem na crença de autossuficiência e que jamais serão abalados. Como diria Benjamin Franklin, a humanidade é composta por três classes: as que são imóveis, as que são móveis e as que se movem.

É hora de refletir e se mover. Chamar para si uma responsabilidade mútua e parar de agir como se os estupros morais e éticos fossem parte dessa realidade avessa que se tornou correta. Tornou-se mais fácil se amoldar a cegueira de um cenário desolador a querer  enxergar e se obrigar a mudar para melhor, mesmo que isso implique em abrir mão do orgulho, do poder, da vaidade. É nítido que do jeito que está, seria mais fácil sobreviver a um meteoro ou a uma nova era do gelo (não somente de mentes e corações). Saturou-se do MAIS MAIS MAIS...agora é a vez do MENOS! Que tenhamos apenas ganância de prosperidade, progresso, saúde e bem-estar e que possamos despertar esses sentimentos a nossa volta e, em meio a erros e acertos, conquistas positivas sejam alcançadas.

Para encerrar, Huxley dizia que "o bem da humanidade deve consistir em que cada um goze o máximo de felicidade que possa, sem diminuir a felicidade dos outros". Seria isso uma utopia? 


Citações:
TV CAP
The Guardian
Balkan Insight